Andei,
andei, fiz e refiz, li e reli mas a única coisa que consigo sentir, neste
momento, é vazio e a sensação de que ainda não posso fazer nada porque o estigma
de que tenho de fazer ainda continua ativado. Gostava de o desligar. de vez!….
...Fazer
um trabalho de investigação não é uma tarefa simples, de todo. Comparo esta
caminhada com um percurso de automóvel muito longo, atravessando uma gigante
planície com o depósito provido de gasolina para palmilhar uma, bela, série de
quilómetros. A travessia desse caminho não permite, inicialmente, perceber a
distância a que nos encontramos da meta ….
Imaginei-me nessa estrada sob o
calor tórrido de um dia de verão. Iniciei a minha viagem fresca e cheia de vontade
de pegar no carro e seguir em frente, vislumbrando um momento apenas … a
chegada. Com o objetivo centrado na meta estava longe de imaginar o caminho que
tinha pela frente, sim porque impossível seria imagina-lo, uma vez que nunca o
fizera antes…
E assim, com este estado de espirito dei inicio à minha
viagem.
Janela aberta segui um bom par de quilómetros até as costas darem os
primeiros sinais de, “pára um bocadinho que estás a precisar”. Cheia
de animo fiz uma paragem breve pois não queria perder tempo. Dei duas voltas ao
carro para desenferrujar as pernas enquanto fumava um cigarro e num instante
fiquei pronta para arrancar. Continuei mais uma enfiada de quilómetros sentada
na mesma posição e com o mesmo objetivo. A dada altura o meu corpo e a minha
mente impuseram-se e mandaram-me parar por um tempo mais prolongado. A noite
aproximava-se e já não me deixavam continuar. É preciso fechar os olhos e
dormir. Mas esse sono, nesse dia, não foi tranquilo, foi irrequieto e pouco
confortável, falta-me o conforto das rotinas que deixei para trás. Mas ainda
assim dormi e acordei obstinada por seguir viagem. Afinal não é ali a minha
meta.!Fui em frente com mais energia que no final do dia anterior, mas com menos
que no dia antes do dia anterior. Continuei a viagem e esta rotina instalou-se
por vários dias e perdi a noção da quantidade de quilómetros que ainda me
faltava percorrer, assim como, dos que já tinha percorrido. Uma leve sensação de desespero surgiu quando ao fim destes
dias me deparei com uma encruzilhada ali no meio do nada... E agora? Vou em
frente, viro à esquerda? Bolas e agora? Estou cansada e não sei que direção
tomar!… ainda por cima não há rede, o que faço? Tenho de decidir e decidi, vou
para a direita parece-me, sabe-se lá porquê, que será mais sensato… vamos
confirmar com o mapa.. uiiii não encontro o mapa e como não sei, ao certo,
onde estou não me serve de muito! Mas ainda assim arrisquei…. Insegura segui o
caminho que me pareceu mais correto….. Algumas horas depois passa por mim um
carro e alguém com um sorriso amistoso e tranquilo sorriu e acenou-me com a cabeça e … aquela simpatia ajudou-me a seguir em frente, mais ainda, quando
perguntei se estaria no caminho certo e me confirmou dizendo “ acho que sim,
continue”. Fiquei tão feliz que segui respirando fundo com uma estranha sensação
de alívio fazendo querer que a energia inicial da viagem houvera voltado…
Lá
segui e lá me deparei, inúmeras vezes, com encruzilhadas. Aleatoriamente fui
escolhendo caminhos à medida que se cruzavam no meu percurso. De vez em quando outros
rostos sorridentes, amistosos e tranquilos passavam por mim e acenavam com a
cabeça, mas o cansaço começava a pesar. As noites desconfortáveis e intranquilas
sobrepunham-se, em catadupa, e cada vez mais ansiava o final do percurso...
neste momento só, e apenas, com o objetivo de descansar e tomar um duche
relaxante. Alturas houve em que o calor e a dor nas pernas daquele movimento
repetitivo do acelerador era tão grande que a vontade de voltar para trás
começava a ser cada vez mais real… mas se não sei onde estou como poderei
ponderar voltar atrás? Já que cheguei aqui o melhor é seguir em frente… segui em
frente e a muito custo fui avançando graças à amabilidade dos escasso condutores
que se cruzavam comigo. Alguns davam-me água quando a sede apertava e as minhas
reservas há muito tinham chegado ao fim… sentia-me cansada, esgotada, transpirada
e com a roupa suja e pespegada de pó. O meu cérebro já só em delírio vislumbrava
o caminho que tinha deixado para trás e como que em sonho imaginava o que iria
encontrar no final. Entre esses momentos de delírio e sonho surgiam momentos de
lucidez que me permitiam pensar, “já falta pouco, já não devo estar longe depois
de tantos kilometros percorridos já devo estar mesmo a chegar…”
Perdida na
imensidão dessa viagem eis que me surge, a dada altura, alguém que me sorriu
amavelmente à semelhança dos anteriores condutores. Mas desta vez, este alguém
falou.. era alguém sábio que me levou consigo para debaixo de uma árvore
solitária e pela primeira vez, depois de muito andar, senti a leveza de uma
brisa, fresca, com cheiro a erva molhada e que me incitou na memória uma
perfeita sensação de paz, aquela paz que há muito havia perdido. As palavras
sabias foram poucas “não desista, o caminho esta certo, ainda faltam alguns
quilómetros mas se forem bem conduzidos a sua meta será alcançada brevemente,
avance sem medo. Mesmo na reta final e apenas por estar muito cansada, irá
pensar que pequenos obstáculos do caminho são montanhas intransponíveis… mas
nessa altura lembre-se desta conversa e imediatamente essas montanhas se
transformarão em pó. Esse pó será, apenas, mais uma serie de partículas,
dessas muitas, que a sua roupa suja acumula e que terá de lavar no final da
caminhada.
Foi bem verdade o que disse o sábio… o restante caminho foi
difícil, a insegurança ainda a reinar, os obstáculos a surgir. À medida que ia
chegando, a sensação de obstáculos intransponíveis ia crescendo e quase
derrubava todos os conselhos do Sábio. Tudo nesta altura era uma certeza não
absoluta…já sem folego, doente de cansaço e sem força para carregar no
acelerador comecei a vislumbrar umas torres de betão, minúsculas, que iam
aumentando de tamanho à medida que me aproximava delas … quando ficaram gigantes
e imponentes à minha frente constatei que não… não era aquele, ainda, o meu
destino verdadeiro. Ao longe um casario….e mais uma vez senti que "- Estou lá,
é ali!" mas a proximidade novamente demoveu a minha convicção… caramba mas o que
falta ainda?....
De repente dei conta
que do meu lado esquerdo se aproximava um lugar que me pareceu ser,
irremediavelmente, o "tal"... "- É ali não há dúvida… será possível? É ali… é
ali que está aquela casa que trazia na ideia encontrar...
"- Estou cansada,
baralhada, mas aquela casa com alpendre... não acredito…"
Entrei passando e olhando para o alpendre quase sem o
ver… lá dentro deparei-me com uma mesa antiga que sob uma toalha bordada de
linho ostentava um grandioso banquete. Subi as escadas a correr e uma banheira
cheia de espuma enfeitada e perfumada com pétalas de rosas, vermelhas,
precipitou-se na minha direção… a ficção e a realidade misturaram-se. Ao lado da
banheira uma cama e um roupão imaculadamente branco…. "- o que faço primeiro?"
Desci as escadas procurei o alpendre, passei pela confortável cadeira de baloiço
e encostei-me ao corrimão... o meu corpo escorregou involuntariamente pelas
escadas e ali fiquei imóvel, sentada, sem tempo marcado e a pensar que sitio
seria aquele ? ter-me-ei enganado?