sábado, 17 de março de 2012

Caminhando....


Andei, andei, fiz e refiz, li e reli mas a única coisa que consigo sentir, neste momento, é vazio e a sensação de que ainda não posso fazer nada porque o estigma de que tenho de fazer ainda continua ativado. Gostava de o desligar. de vez!….
...Fazer um trabalho de investigação não é uma tarefa simples, de todo. Comparo esta caminhada com um percurso de automóvel muito longo, atravessando uma gigante planície com o depósito provido de gasolina para palmilhar uma, bela, série de quilómetros. A travessia desse caminho não permite, inicialmente, perceber a distância a que nos encontramos da meta ….
Imaginei-me nessa estrada sob o calor tórrido de um dia de verão. Iniciei a minha viagem fresca e cheia de vontade de pegar no carro e seguir em frente, vislumbrando um momento apenas … a chegada. Com o objetivo centrado na meta estava longe de imaginar o caminho que tinha pela frente, sim porque impossível seria imagina-lo, uma vez que nunca o fizera antes…
E assim, com este estado de espirito dei inicio à minha viagem.
Janela aberta segui um bom par de quilómetros até as costas darem os primeiros sinais de, “pára um bocadinho que estás a precisar”. Cheia de animo fiz uma paragem breve pois não queria perder tempo. Dei duas voltas ao carro para desenferrujar as pernas enquanto fumava um cigarro e num instante fiquei pronta para arrancar. Continuei mais uma enfiada de quilómetros sentada na mesma posição e com o mesmo objetivo. A dada altura o meu corpo e a minha mente impuseram-se e mandaram-me parar por um tempo mais prolongado. A noite aproximava-se e já não me deixavam continuar. É preciso fechar os olhos e dormir. Mas esse sono, nesse dia, não foi tranquilo, foi irrequieto e pouco confortável, falta-me o conforto das rotinas que deixei para trás. Mas ainda assim dormi e acordei obstinada por seguir viagem. Afinal não é ali a minha meta.!Fui em frente com mais energia que no final do dia anterior, mas com menos que no dia antes do dia anterior. Continuei a viagem e esta rotina instalou-se por vários dias e perdi a noção da quantidade de quilómetros que ainda me faltava percorrer, assim como, dos que já tinha percorrido. Uma leve sensação de desespero surgiu quando ao fim destes dias me deparei com uma encruzilhada ali no meio do nada... E agora? Vou em frente, viro à esquerda? Bolas e agora? Estou cansada e não sei que direção tomar!… ainda por cima não há rede, o que faço? Tenho de decidir e decidi, vou para a direita parece-me, sabe-se lá porquê, que será mais sensato… vamos confirmar com o mapa.. uiiii não encontro o mapa e como não sei, ao certo, onde estou não me serve de muito! Mas ainda assim arrisquei…. Insegura segui o caminho que me pareceu mais correto….. Algumas horas depois passa por mim um carro e alguém com um sorriso amistoso e tranquilo sorriu e acenou-me com a cabeça e … aquela simpatia ajudou-me a seguir em frente, mais ainda, quando perguntei se estaria no caminho certo e me confirmou dizendo “ acho que sim, continue”. Fiquei tão feliz que segui respirando fundo com uma estranha sensação de alívio fazendo querer que a energia inicial da viagem houvera voltado…
Lá segui e lá me deparei, inúmeras vezes, com encruzilhadas. Aleatoriamente fui escolhendo caminhos à medida que se cruzavam no meu percurso. De vez em quando outros rostos sorridentes, amistosos e tranquilos passavam por mim e acenavam com a cabeça, mas o cansaço começava a pesar. As noites desconfortáveis e intranquilas sobrepunham-se, em catadupa, e cada vez mais ansiava o final do percurso... neste momento só, e apenas, com o objetivo de descansar e tomar um duche relaxante. Alturas houve em que o calor e a dor nas pernas daquele movimento repetitivo do acelerador era tão grande que a vontade de voltar para trás começava a ser cada vez mais real… mas se não sei onde estou como poderei ponderar voltar atrás? Já que cheguei aqui o melhor é seguir em frente… segui em frente e a muito custo fui avançando graças à amabilidade dos escasso condutores que se cruzavam comigo. Alguns davam-me água quando a sede apertava e as minhas reservas há muito tinham chegado ao fim… sentia-me cansada, esgotada, transpirada e com a roupa suja e pespegada de pó. O meu cérebro já só em delírio vislumbrava o caminho que tinha deixado para trás e como que em sonho imaginava o que iria encontrar no final. Entre esses momentos de delírio e sonho surgiam momentos de lucidez que me permitiam pensar, “já falta pouco, já não devo estar longe depois de tantos kilometros percorridos já devo estar mesmo a chegar…”
Perdida na imensidão dessa viagem eis que me surge, a dada altura, alguém que me sorriu amavelmente à semelhança dos anteriores condutores. Mas desta vez, este alguém falou.. era alguém sábio que me levou consigo para debaixo de uma árvore solitária e pela primeira vez, depois de muito andar, senti a leveza de uma brisa, fresca, com cheiro a erva molhada e que me incitou na memória uma perfeita sensação de paz, aquela paz que há muito havia perdido. As palavras sabias foram poucas “não desista, o caminho esta certo, ainda faltam alguns quilómetros mas se forem bem conduzidos a sua meta será alcançada brevemente, avance sem medo. Mesmo na reta final e apenas por estar muito cansada, irá pensar que pequenos obstáculos do caminho são montanhas intransponíveis… mas nessa altura lembre-se desta conversa e imediatamente essas montanhas se transformarão em pó. Esse pó será, apenas, mais uma serie de partículas, dessas muitas, que a sua roupa suja acumula e que terá de lavar no final da caminhada.
Foi bem verdade o que disse o sábio… o restante caminho foi difícil, a insegurança ainda a reinar, os obstáculos a surgir. À medida que ia chegando, a sensação de obstáculos intransponíveis ia crescendo e quase derrubava todos os conselhos do Sábio. Tudo nesta altura era uma certeza não absoluta…já sem folego, doente de cansaço e sem força para carregar no acelerador comecei a vislumbrar umas torres de betão, minúsculas, que iam aumentando de tamanho à medida que me aproximava delas … quando ficaram gigantes e imponentes à minha frente constatei que não… não era aquele, ainda, o meu destino verdadeiro. Ao longe um casario….e mais uma vez senti que "- Estou lá, é ali!" mas a proximidade novamente demoveu a minha convicção… caramba mas o que falta ainda?....

De repente dei conta que do meu lado esquerdo se aproximava um lugar que me pareceu ser, irremediavelmente, o "tal"... "- É ali não há dúvida… será possível? É ali… é ali que está aquela casa que trazia na ideia encontrar...
"- Estou cansada, baralhada, mas aquela casa com alpendre... não acredito…"

Entrei passando e olhando para o alpendre quase sem o ver… lá dentro deparei-me com uma mesa antiga que sob uma toalha bordada de linho ostentava um grandioso banquete. Subi as escadas a correr e uma banheira cheia de espuma enfeitada e perfumada com pétalas de rosas, vermelhas, precipitou-se na minha direção… a ficção e a realidade misturaram-se. Ao lado da banheira uma cama e um roupão imaculadamente branco…. "- o que faço primeiro?" Desci as escadas procurei o alpendre, passei pela confortável cadeira de baloiço e encostei-me ao corrimão... o meu corpo escorregou involuntariamente pelas escadas e ali fiquei imóvel, sentada, sem tempo marcado e a pensar que sitio seria aquele ? ter-me-ei enganado?