sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O meu sítio!



Foi tempo de calor, de despir a roupa do corpo e abrir a janela da alma para deixar entrar o sol. 
Ver o mar, deitar no banco na aldeia, olhar para as estrelas e para o céu e achar que o céu é o mar de cabeça para baixo … é ter tempo …ter tempo de imaginar o que quisermos aí, nesse banco, deitados a olhar só para o céu.

Foi tempo de despir, também, a casa de todo o mofo acumulado durante o inverno… cheirou a sol e a pó distante… substituiram-se cheiros de inverno por odores quentes , frutados, doces, a relva cortada e terra molhada dos expressores que disparam na calada da noite, quebrando o silencio que nos embala a dificuldade, quente, de respirar.

Estou habituada a verões quentes e não gosto... mas gosto do sabor a tempo de descanso, não gosto do calor do verão.

Um dia vou gostar … os gostos são como as estações do ano, vão e vêm quando a vida quer… um dia vou gostar do verão na minha terra, assim como comecei a gostar de queijo fresco. Não mandamos nos gostos a vida é que manda.

Este ano o verão esmerou-se, voltou como antigamente, cheio de força. Chegou, pousou as malas e cumpriu a sua missão como há muito não cumpria. Ouve-se dizer, “ nuca houve verão como este” . Eu compreendo bem esta expressão, foi seco, árido, quente como só ele sabe ser. Dono da estação, guerreiro de armas em punho afugentando qualquer sopro ou frente fria que se atrevesse aproximar… este ano mando eu (deve ter pensado o verão!!!). Veio e foi deixando uma enxurrada de boas memorias vividas com quem muito gostamos. Para o ano há mais verão. Sejam felizes na estação que se avizinha que também, ela, virá carregada de pequenos nadas que a tornarão igualmente bela.  hf

Ano Letivo novo! texto de 2014/2'15



Hoje começou o novo ano letivo para nós professores e escrevo este texto para todos aqueles...
Para todos aqueles que, tal como eu, a partir de uma certa altura sentiram um puxão no tapete debaixo dos pés…
Para todos aqueles que, tal com eu, sentiram escorregar por entre os 5 sentidos uma coisa chamada segurança profissional que foi prometida e conquistada por direito, preservada com dedicação, empenho, prazer e profissionalismo…
Para todos aqueles que tal como eu chegaram a uma fase da existência, achando que poderiam garantir a continuidade do projeto de vida que planearam porque assim lhes foi permitido planear…
Para todos aqueles que tal como eu, ouve frases como “ agora é um ano de cada vez” “agora temos de agradecer por termos emprego”, “ai agora não podem ser ingratos” …
Para todos aqueles que, tal como eu, se sentem revoltados por ter de agradecer um direito que lhes foi dado por mérito, trabalho dedicação e investimento pessoal. Agradecer? Agradecer o quê? Termos trabalhado seriamente, passado as provas arduamente, enfrentando barreiras diárias, dando o melhor que temos para dar a acreditar que esse direito que conquistamos seria vitalício?
Para todos aqueles que, tal como eu, se sentem como qualquer miúdo de 20 anos que começa agora a sua carreira profissional sujeita aquilo que poderão oferecer e pior que isso, só se for possível haver alguma coisa para oferecer…
Tiro o Chapéu aos Diretores de escolas que, tal como a minha, fazem o pino para poder garantir alguma qualidade de vida aos seus professores, por se preocuparem por recuperar um horário, um cargo, um trabalho que foi “ROUBADO” e que fazem o possível por contornar as barbaridades que lhes são impostas e as pressões que sofrem como aquela : “ Câmaras oferecem dinheiro às escolas que reduzirem ao máximo o número de professores” …
Por todos aqueles que, tal como eu, SÃO professores do quadro do agrupamento de escolas há mais de 19 anos e que agora já não sabem se são isso, ou se são apenas lixo pronto para despejar no balde mais próximo…
Para todos aqueles que, tal com eu, vão ver entrar em vigor leis que nos obrigarão a fazer escolhas terríveis e no escuro… sem saber se o dia de amanhã trará aquilo que por direito já não deveria ser questionado!
A meu ver e na minha básica opinião, as mudanças estruturais nos sistemas ( neste caso no ensino) começariam por fazer-se naquilo que vem de novo, não retirando e mexendo em projetos de vida já construídos e em marcha. Assim, deste modo, não vejo melhorias, as pessoas não produzem, as pessoas não consomem , as pessoas não tem sequer vontade de dar o” tal melhor de si” e passar tudo o que de bom um professor tem por competência fazer …. Os piores exemplos estão a ser dados. Poderemos vir a ser um país de gente mais medíocre ainda… é assustador.
Ahh mas sim, estou AGRADECIDA sim!!!!… não por ter o MEU trabalho, esse é MEU por direito… mas sim, por ter tido QUEM lutasse para que eu não o perdesse. Essa gratidão é genuína porque, afinal, a insensibilidade do nosso governo é colmatada por aqueles que podem AINDA ir fazendo alguma coisa, perdendo o sono, tentado encontrar soluções enquanto nós estamos ao sol, gozando as merecidas férias.
“ Um ano de cada vez… ”. A frase mais estúpida e injusta que pensei proferir na minha vida!!!