quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Magical Pieces 3 - Memórias Olfácticas!

Numa interessante troca de conversas com a minha amiga APO, veio-me à memória uma série de coisas boas que gostava de descrever para poder de novo vivê-las e garanto que estão bem frescas...



Acordava muitas vezes com uma janela e uma paisagem quase, quase igual a esta (a árvore que tinha em frente era uma azinheira, não esta) e com o cheiro a verde, algumas vezes húmido, quando alguma noite se apresentava mais fria. O sol nascia e eu via muitas vezes…
Passei muitas férias de Natal, Páscoa e Verão numa casa Alentejana numa quinta onde morava a minha Avó Maria.
Tenho precisamente todos os cheiros dessa época na minha mente e não consigo de modo nenhum esquecê-los e já lá vão uns belos trinta e muitos anos…
Nunca tive Lareira em casa, só bem mais tarde. Mas na casa da Avó Maria tinha a sorte de privar com uma enorme, daquelas em que entramos mesmo todos lá para dentro, tipicamente alentejana muito branquinha. Tão branca que até encandeava…
Estava sempre acesa , fosse Inverno fosse Verão, com muitas panelas de ferro em volta do lume.
O cheiro do café vindo daquelas panelas logo pela manhã juntamente com o das torradas feitas no lume com um garfo, é qualquer coisa de extraordinário que jamais me sairá da memória. Assim como o dos ovos estrelados em azeite que a minha querida Avó me fazia com todo o carinho do mundo.
E o cheiro do calor naquelas tardes tórridas de verão, quando o pessoal dormia a sesta e em que eu estava determinantemente proibida de meter o nariz fora da porta não fosse o calor derreter-me a mim flor de estufa da cidade???… Um cheiro quente e doce … tão bom!
Gostava de brincar na “charca”, nome dado a uma nascente de água que lá havia e que estava cheia de limos e “peixes cabeçudos”, (mais um cheiro inesquecível) e tb no tanque onde a minha Avó Maria lavava a roupa. Um tanque gigante onde eu me banhava de cada vez que havia uma sessão de lavagem de roupa. A água era branca de tanto sabão clarim, mas mesmo assim eu mergulhava muito contente e até a minha avó acabar ninguém me arrancava dali.
Depois havia ainda uma outra coisa extraordinária, que eram as visitas á vila quando era necessário comprar aqueles produtos que não se produziam por lá. Cada vez que íamos á vila ia-mos a pé ladeira acima (um belo de um esticão; mas nessa altura ainda não era fundamentalista em relação ás coisas saudáveis e dava-me um gozo bestial fazer aquela caminhada. Lembro-me que, no caminho havia sempre uma paragem obrigatória em casa de uma vizinha fantástica que fazia bolinhas de chocolate pequeninas e embrulhava-as em prata colorida e dava-me sempre umas valentes sacadas daquilo. Parece que ainda as estou a mastigar … que saudades… que cheirinho vinha sempre daquela casa naqueles dias em que se faziam bolinhas de chocolate…
Bem… e o entardecer? Era tão lindo e tão bom! acabava o dia á janela outra vez, no lusco-fusco a ouvir rádio (Não havia televisão), porque nem sequer havia luz. E então vinha de lá de dentro um cheirinho a petróleo e eis que se fazia então mesmo de noite… é verdade parece que foi ontem… meus filhos vão mesmo pensar que sou de outro século… afinal já tenho 40 anos… que sorte tive de poder viver estas experiências e que pena tenho de eles não…
Haveria muito mais coisas, muitas mais para recordar e que me estão a vir á memória em catadupa, mas seria uma violência para vocês estarem a “levar”(passo a expressão) com todos os meus pormenores eeheheh…

Coisas da Minha Infância…

7 comentários:

macati disse...

então e o cheiro das primeiras chuvas na terra seca... e o cheiro de lápis afiados... há uns tempos entrei na minha sala da escola primária e voltei a sentir este cheiro e de repente senti uma certa saudade desse tempo... repito: CERTA saudade, não muita... hehehe
bjnh e gostei deste cheirinho do magical

Anónimo disse...

Por mim podes continuar a descrever,tudinho.Quem sabe no próximo Magical não fazes uma continuação deste.
Beijinhos
Diana

Porcelain disse...

Ei, miúda!!! A malta quer ouvir o resto!! A malta quer mais! Bis, bis!! Está tão lindo!! Também não vais nada mal como escritora... ;-) Olha, já eu, que sempre tive um nariz "de tísica" (eh, eh, eh, e ouvido também :-D), guardo pouquíssimas memórias... por acaso, o cheiro das escolas tenho-o guardado... mas acho-o péssimo; enquanto o sinto, é sinal que ainda não me integrei bem no ambiente...

APO (Bem-Trapilho) disse...

Lindo Képia! Como te entendo!!! E tu sabes, nao é!?...
Não tenhas pena que os teus filhos não tenham essas memorias, pois certamente terao as suas proprias, que se calhar ainda não valorizam mas lá virá o tempo! e irao lembra-las tal como tu, só serao lembranças diferentes!
Por fim, fiquei com muita pena de não teres mais para nós! E faço-te um desafio, abordares mais vezes este tema nos teus magical pieces! o que achas! Eu por mim adoraria!
bjo grande amiga!
:)

Maria Teresa santos disse...

Olá
Que infância tão bonita
Vejo algumas coisas na tua mensagem que acontecia também comigo quando ia para a terra do meu pai, só que ele é do norte.
Também tenho muitas saudades desse tempo
Mas ficam-nos as recordações que são bem boas
Bjs

Zézito do Nada disse...

noto ar nostalgico. obrigado pela visita ao meu modesto blog. em resposta ao seu comentario, poderia ter reparado que o blog surgiu de uma ideia muito louca para gente que não faz nada (futil) e foi evoluindo para tematicas diversas mas para curiosidades que de nada têm a ver com os primeiros post dos quais tb esta esta sondagem.

Unknown disse...

Olá Helena,
Que texto lindo e que, também a mim, me reportou à minha infância, não no Alentejo mas no Norte, Vila Real, onde, como deves imaginar, os cheiros também são muito intensos e onde passei muitas férias e Natais à lareira, enquanto os potes pretos de ferro, ferviam a sopa...
Ai que cheirinho que estou a sentir...
Obrigada por mais este momento mágico e segue o conselho da APO, aborda-o mais vezes.
Beijinhos e resto de um bom fim de semana,
Lia.