Numa interessante troca de conversas com a minha amiga APO, veio-me à memória uma série de coisas boas que gostava de descrever para poder de novo vivê-las e garanto que estão bem frescas...
Acordava muitas vezes com uma janela e uma paisagem quase, quase igual a esta (a árvore que tinha em frente era uma azinheira, não esta) e com o cheiro a verde, algumas vezes húmido, quando alguma noite se apresentava mais fria. O sol nascia e eu via muitas vezes…
Passei muitas férias de Natal, Páscoa e Verão numa casa Alentejana numa quinta onde morava a minha Avó Maria.
Tenho precisamente todos os cheiros dessa época na minha mente e não consigo de modo nenhum esquecê-los e já lá vão uns belos trinta e muitos anos…
Nunca tive Lareira em casa, só bem mais tarde. Mas na casa da Avó Maria tinha a sorte de privar com uma enorme, daquelas em que entramos mesmo todos lá para dentro, tipicamente alentejana muito branquinha. Tão branca que até encandeava…
Estava sempre acesa , fosse Inverno fosse Verão, com muitas panelas de ferro em volta do lume.
O cheiro do café vindo daquelas panelas logo pela manhã juntamente com o das torradas feitas no lume com um garfo, é qualquer coisa de extraordinário que jamais me sairá da memória. Assim como o dos ovos estrelados em azeite que a minha querida Avó me fazia com todo o carinho do mundo.
E o cheiro do calor naquelas tardes tórridas de verão, quando o pessoal dormia a sesta e em que eu estava determinantemente proibida de meter o nariz fora da porta não fosse o calor derreter-me a mim flor de estufa da cidade???… Um cheiro quente e doce … tão bom!
Gostava de brincar na “charca”, nome dado a uma nascente de água que lá havia e que estava cheia de limos e “peixes cabeçudos”, (mais um cheiro inesquecível) e tb no tanque onde a minha Avó Maria lavava a roupa. Um tanque gigante onde eu me banhava de cada vez que havia uma sessão de lavagem de roupa. A água era branca de tanto sabão clarim, mas mesmo assim eu mergulhava muito contente e até a minha avó acabar ninguém me arrancava dali.
Depois havia ainda uma outra coisa extraordinária, que eram as visitas á vila quando era necessário comprar aqueles produtos que não se produziam por lá. Cada vez que íamos á vila ia-mos a pé ladeira acima (um belo de um esticão; mas nessa altura ainda não era fundamentalista em relação ás coisas saudáveis e dava-me um gozo bestial fazer aquela caminhada. Lembro-me que, no caminho havia sempre uma paragem obrigatória em casa de uma vizinha fantástica que fazia bolinhas de chocolate pequeninas e embrulhava-as em prata colorida e dava-me sempre umas valentes sacadas daquilo. Parece que ainda as estou a mastigar … que saudades… que cheirinho vinha sempre daquela casa naqueles dias em que se faziam bolinhas de chocolate…
Bem… e o entardecer? Era tão lindo e tão bom! acabava o dia á janela outra vez, no lusco-fusco a ouvir rádio (Não havia televisão), porque nem sequer havia luz. E então vinha de lá de dentro um cheirinho a petróleo e eis que se fazia então mesmo de noite… é verdade parece que foi ontem… meus filhos vão mesmo pensar que sou de outro século… afinal já tenho 40 anos… que sorte tive de poder viver estas experiências e que pena tenho de eles não…
Haveria muito mais coisas, muitas mais para recordar e que me estão a vir á memória em catadupa, mas seria uma violência para vocês estarem a “levar”(passo a expressão) com todos os meus pormenores eeheheh…
Coisas da Minha Infância…
7 comentários:
então e o cheiro das primeiras chuvas na terra seca... e o cheiro de lápis afiados... há uns tempos entrei na minha sala da escola primária e voltei a sentir este cheiro e de repente senti uma certa saudade desse tempo... repito: CERTA saudade, não muita... hehehe
bjnh e gostei deste cheirinho do magical
Por mim podes continuar a descrever,tudinho.Quem sabe no próximo Magical não fazes uma continuação deste.
Beijinhos
Diana
Ei, miúda!!! A malta quer ouvir o resto!! A malta quer mais! Bis, bis!! Está tão lindo!! Também não vais nada mal como escritora... ;-) Olha, já eu, que sempre tive um nariz "de tísica" (eh, eh, eh, e ouvido também :-D), guardo pouquíssimas memórias... por acaso, o cheiro das escolas tenho-o guardado... mas acho-o péssimo; enquanto o sinto, é sinal que ainda não me integrei bem no ambiente...
Lindo Képia! Como te entendo!!! E tu sabes, nao é!?...
Não tenhas pena que os teus filhos não tenham essas memorias, pois certamente terao as suas proprias, que se calhar ainda não valorizam mas lá virá o tempo! e irao lembra-las tal como tu, só serao lembranças diferentes!
Por fim, fiquei com muita pena de não teres mais para nós! E faço-te um desafio, abordares mais vezes este tema nos teus magical pieces! o que achas! Eu por mim adoraria!
bjo grande amiga!
:)
Olá
Que infância tão bonita
Vejo algumas coisas na tua mensagem que acontecia também comigo quando ia para a terra do meu pai, só que ele é do norte.
Também tenho muitas saudades desse tempo
Mas ficam-nos as recordações que são bem boas
Bjs
noto ar nostalgico. obrigado pela visita ao meu modesto blog. em resposta ao seu comentario, poderia ter reparado que o blog surgiu de uma ideia muito louca para gente que não faz nada (futil) e foi evoluindo para tematicas diversas mas para curiosidades que de nada têm a ver com os primeiros post dos quais tb esta esta sondagem.
Olá Helena,
Que texto lindo e que, também a mim, me reportou à minha infância, não no Alentejo mas no Norte, Vila Real, onde, como deves imaginar, os cheiros também são muito intensos e onde passei muitas férias e Natais à lareira, enquanto os potes pretos de ferro, ferviam a sopa...
Ai que cheirinho que estou a sentir...
Obrigada por mais este momento mágico e segue o conselho da APO, aborda-o mais vezes.
Beijinhos e resto de um bom fim de semana,
Lia.
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